Zurlini foi também incompreendido em Itália, por ser um desalinhado das novas tendências de um cinema nacional dividido, grosso modo, entre o incondicionalismo a um Antonioni versus o incondicionalismo a um Fellini. De qualquer modo, hoje, à distância - é sempre bom ganhá-la sobre tudo o que parece, ou é de facto, "desalinhado" no presente -, a sua obra ganha uma vitalidade como poucas. "A Rapariga da Mala" já é mais do que um filme de culto; é uma crónica franca, como poucas, do devir sexual/existencial de um adolescente e do objecto que o obceca - a linda de morrer Claudia Cardinale. O já citado "Estate Violenta" - anterior - cola-se a este, numa espécie de double bill perfeito, pelo sensualismo das imagens, do corpo feminino contra o masculino - o fervor do desejo com alguma história, e História, em pano de fundo...
Duas obras-primas que não estão sós na sua filmografia - que eu próprio ainda estou a descobrir, com a paciência impaciente de quem deixa para o fim a sobremesa. "Outono Escaldante", com de novo uma mulher divinalmente bela (Sonia Petrovna) e o mais cool dos actores (Alain Delon), é um poema triste sobre a dialéctica do desejo e da morte. Maravilhoso pedaço de cinema, para ouvir e absorver fotograma a fotograma, que carece de maior promoção. Promovê-lo mais seria, a meu ver, um serviço ao cinema, um serviço ao país e aos famintos cinéfilos portugueses em formação.
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