O nosso subscritor Eduardo Cintra Torres publica, hoje, no seu espaço Olho Vivo do jornal Público um artigo intitulado "O obscurantismo iluminado da RTP2" (página 12 do suplemento P2). A nossa petição é o motivo central.
Poderão lê-lo aqui, caso tenham acesso ao Público online, ou então neste post, onde o transcrevemos ipsis verbis.
Assinei com simpatia, mas sem esperança, uma petição pelo regresso da exibição regular de cinema à RTP2, subscrita por mais de mil cidadãos, que lembra o papel passado do canal do Estado na aprendizagem pelas novas gerações da linguagem cinematográfica, quando havia selecção criteriosa de filmes, entrevistas, debates ou apresentações por especialistas.
Os jorvens autores da petição não puderam conhecer o Museu de Cinema, com António Lopes Ribeiro, nos anos 60-70. Num programa simples e eficaz, o realizador apresentava ao estilo da época, narrava e comentava um filme mudo, enquanto o pianista António Melo acompanhava ao vivo, como nas salas de cinema antes do sonoro. Foi com Lopes Ribeiro que vi obras fundamentais. Recordo os cómicos (Chaplin, Max Linder, Buster Keaton, Harold Lloyd), epopeias (The Big Parade de King Vidor) e outras obras-primas (Greed de von Stroheim, The Wind, de Sjostrom),
Apesar de uma sessão mensal de filmes mudos no ARTE, o cinema mudo é hoje, para os programadores, uma aberração, por ser a TV um media sonoro e palavroso. Os audiovisuais desabituaram-nos do silêncio. Seria preciso pessoas cultas e corajosas num canal público para programar clássicos mudos, mas nem precisamos de ir por aí. A RTP2 também escorraçou os clássicos sonoros.Deve ter sido há uns vinte anos que passou ciclos de realizadores como Lubitsch ou Cukor, alimentando a literacia cinematográfica do espectador. Hoje, como refere a petição, a RTP2 não cumpe a Lei da Televisão nesta matéria, passa filmes sem sentido e repete os poucos que passa. A petição poderia mencionar que o cinema contemporâneo português, em especial o cinema independente e documental, entrou em 2009 em ruptura com a direcção da RTP2 e a RTP em geral.
Os "critérios" das direcções da RTP2 e RTP1 são comerciais e financeiros. Procuram obter o máximo de audiência com o mínimo de serviço público. Os filmes na RTP2 são o rebotalho de pacotes comprados às grandes companhias americanas com milhões dos nossos euros. Para mostrar na RTP1 o Homem Aranha ou Harry Potter, a RTP tem de lhes comprar muito lixo, que atira para as madrugadas e para a RTP2. Acresce que o maior investimento da RTP2 vai para coisas como o Câmara Clara, caríssimo para o pouco que é, um palco para a subdirectora do canal.
Outras áreas da RTP2 revelam incapacidade estrutural de programar um serviço público. Em vez de documentários, apresenta enlatados de entretém de animais e seus tratadores e repete-os uma meia dúzia de vezes no horário nobre. Apresenta séries americanas banais. Exagera na quantidade de programas infantis estrangeiros (oito a 10 horas por dia), desvirtuando o perfil generalista que a lei define.O noticiário das 22h00 está domesticado. Etc. Isto não vai lá com petições.
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