Os seus alter-egos variam pouco entre os dois filmes que, no fundo, têm títulos intercomunicantes: até digo que, hoje, "Blind Husbands" é mais sobre "Foolish Wives" que outra coisa, mas o contrário também vinga! O que mais nos espanta hoje é esta espécie de anti-heroísmo metafílmico, ultra-irónico, que vem desafiar as barreiras da moralidade, sobretudo, da moralidade da Hollywood que aí vinha - a dos códigos de decência.
Stroheim foi um dos maiores cineastas do mundo, sempre polémico e, como disse, demencial nos seus simulacros folhetinescos à imagem... da Vida - reproduzi-la em estúdio com fidedignidade, convenhamos, sai muito muito caro. Stroheim dirigiu Gloria Swanson em "Queen Kelly" e afundou-se comercialmente com o monumental "Greed". Depois tornou-se num fantasma do Mudo, que nesta ou naquela obra-prima ("Sunset Boulevard" e "La grande illusion") saiu da escuridão para dar corpo a personagens assombradas.
César Monteiro será, porventura, o maior cultor da truculência irónica e ultrajante do velho Stroheim. Seria interessante dar a pensar o seu cinema no pequeno ecrã de uma qualquer estação pública digna desse nome.
"Foolish Wives" (1922) de Erich von Stroheim
"Recordações da Casa Amarela" (1989) de João César Monteiro
Luís Mendonça
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