Foi a maior descoberta que fiz nos últimos anos. Chama-se Larisa Shepitko, nasceu na Ucrânia comunista e faleceu precocemente num desastre de viação tinha ela apenas 41 anos. Aleksandr Dovzhenko foi o seu grande mestre e Elem Klimov seu marido.
Das poucas longas-metragens que realizou, contam-se duas obras-primas monumentais.
A primeira que me deixou abismado foi "Wings" (1966), um drama "antonioniano" centrado numa reitora de um liceu e no modo como esta lida com as nebulosas memórias da Segunda Guerra, onde lutou como piloto do exército soviético. O cenário é uma sociedade moralmente derrotada - que ousadia uma mulher fazer tal statement debaixo de um regime tão cerrado! Quando fecha os olhos, nos intervalos do emprego enfadonho, este pássaro ferido sonha acordado com os voos do passado (ver excerto abaixo).
A outra obra-prima da sua autoria que me chegou aos olhos foi "The Ascent" (1977). Trata-se, quanto a mim, de um dos mais violentos retratos da Segunda Guerra e do horror nazi. É um filme com militares - não propriamente um clássico "filme de guerra" - que se interroga filosoficamente, mas sem enjeitar um certo misticismo crístico, sobre a origem do Mal. "Filme com militares"? Não, corrijo: "filme com Homens".
Quem quiser ver e tem dinheiro, é comprar esta magnífica caixa da Eclipse. Quem não tem, é esperar que alguém - um programador de televisão? - se lembre de devolver ao público o génio desta grande cineasta esquecida.
Excerto de "Krylya"/"Wings" (1966)
Luís Mendonça
Sem comentários:
Enviar um comentário