UM BALANÇO
Still de Film socialisme (2010) de JLG
2. O que não esteve mal:
"Filmes sobre o mundo da política". Lemos este título, do segundo (e último) ciclo do ressuscitado "5 Noites, 5 Filmes" e interrogamo-nos sobre se, por demasiado ambicioso, cairá no erro da dispersão absoluta. Não cai redondamente nesse erro, mas quase, porque, afinal, o grande desafio aqui é tentar encontrar um filme que não pertença ao mundo a que o título se refere. Se falarmos da política stricto sensu, do "combate político-partidário", um ciclo inteiro dentro da linhagem pakuliana do magnífico "Good Night, and Good Luck" iria estreitar e con-centrar mais "a mensagem". Contudo, o programador teve aqui o mérito de pôr em abismo, em cada sessão, a possibilidade de 5 ciclos possíveis sobre o totalizante - não obrigatoriamente "totalitário" - mundo da política.
Este "mundo" desdobra-se em possibilidade, em formas, apetece dizer, entre o tal ambientadamente thriller liberal de backstage de um período negro da história política norte-americana até "Isto Não é um Filme" ou o filme-ensaio de Godard sobre o naufrágio da Europa ou o trabalho arqueológico de Ujica sobre Ceausescu ou a visão parodiada do seu terrível regime no filme omnibus chefiado por Mungiu. E, em todas estas formas, ensaia-se qualquer coisa tão desconcertante quanto a própria sensação que tivemos mal lemos o tema do ciclo: que fora do mundo da política resta pouco ou nada.
Foi, assim, bastante feliz o programador em conciliar modelações tão distintas do "político", sem, com isso, prejudicar um mínimo de concentração de ideias que produza no espectador um pensamento crítico, um "trabalho dialéctico", ante as imagens que lhes são mostradas. Melhor, melhor, só um "Isto Não é Política" (porque, também no filme de Panahi, a dimensão-filme do filme não consegue fugir de si..) para (des)orientar e para lançar a provocação sobre o próprio acto de "programar", coisa sempre ideológica, exercício de retórica e, logo, coisa sempre "perigosa" (sim, estou a pensar em "They Live"; sim, também estou a pensar em "Videodrome"...), que, por isso, exige máxima responsabilidade e máxima reflexão.
Pena que, por regra, o programador deste canal opte pelo discurso auto-desvalorizante do próprio papel do programador, deixando-se tomar pela sua própria incoerência e pela mais lamentável incúria. "Eu não faço pensar, porque ninguém quer pensar", "Eu não sei, porque ninguém quer saber", "Eu não faço, porque não me apetece", ou outras construções do género, assim se faz a auctoritas de Jorge Wemans, o "querido líder" da RTP2. Nós, pela nossa parte, - que remédio - procuramos resistir...
Luís Mendonça
Luís Mendonça